terça-feira, 31 de março de 2009

Made in USA



No táxi, do Bixiga para a Vila Mariana, em São Paulo (SP):

- Criei seis filhos, três casais. Tudo com faculdade! Pras meninas eu falava que só deixava casar se tivesse estudado. Você sabe como é difícil, né?
- É, é difícil sim.
- Mas acho que isso vem dos meus pais. Eu nasci moreninho assim, mas meus pais não são daqui não.
- E são de onde?
- Minha mãe é de Lisboa e meu pai é americano.
- Americano! Qual seu sobrenome?
- Lincoln.
- Olha só! Igual ao presidente.
- É, o nome é de gente importante, mas eu sou humilde.
- E de região dos Estados Unidos ele era?
- De Houston. Meus avós vieram pra cá naquela crise de 29, sabe?
- Certo. E eles trabalhavam com o quê?
- Ah, abriram uns negócios de restaurante, comida. Mas eles também fizeram todos os filhos estudar.
- Seu pai estudou o quê?
- Meu pai era arquiteto e minha mãe jornalista. Eu sou o caçula de 11 filhos e o único baixinho.
- Nossa, 11... Mas o senhor teve seis, o que hoje dia também é difícil.
- Cinco meus e um que Deus me deu. Deixaram uma japonesinha numa caixa de sapatos em frente de casa. A gente cuidou dela e depois entrou na fila da adoção.
- E foi fácil adotar a menina?
- Virge Maria, foi nada! Quando chegou a nossa vez, queriam dar outra no lugar. Mas a gente queria aquela, a que gente pegou amor, né?
- E vocês nunca souberam quem deixou ela na porta?
- Nunca. Deve ter sido algum coreano ou chinês, porque ela ficou compridona.
- Já tem netos?
- 11 netos e 2 bisnetos.
- Então o senhor casou muito novo!
- A mulher tinha 16 e eu 30. Esse ano a gente faz 42 anos de casados. E eu falo pra vocês: a melhor receita é o diálogo.

Fora do carro, um passageiro olhou para o outro:
- Eu tô achando é que esse motorista tem assistido muito filme de Hollywood.

(Foto: Stock.xchng)

Cavalos fofoqueiros

segunda-feira, 30 de março de 2009

S. Joaquim

No metrô ...

– Estação São Joaquim – anuncia o maquinista.
– Seeeeu Joaquim – grita um passageiro, como se o maquinista pudesse ouvi-lo.

E o passageiro, um senhor de aproximadamente 70 anos, continua.

– Seu Joaquim, aquele safado, ladrão de galinhas. Ele me roubou. Pena que morreu antes de eu me vingar.

Os outros passageiros olhavam para o homem e se entreolhavam. Até que duas mulheres, da equipe de segurança, entraram no vagão.

– Tudo bem, senhor?
– Tudo e com as senhoras?
– Em que estação irá descer?
– Na verdade, eu moro em Taboão, mas agora tô indo para a rodoviária.
– Boa viagem, senhor.

E sem perceber que as moças já haviam saído, virou para uma jovem que estava comendo milho.

– Vou pegar o ônibus e vou lá pra cidade da minha irmã.
– Estação Tietê – anuncia o maquinista.
– Bom pessoal, eu tenho de ir. Fiquem com Deus – se despede o homem dos passageiros que ficam no trem, ao mesmo tempo em que pendurava uma sacola plástica no ombro esquerdo.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Otimizando o aprendizado

No ônibus, em São Paulo, entre o cobrador e passageiro:

- Terminei a auto-escola
- É mesmo? Vai fazer o teste pra carta?
- Vou! logo na terceira aula pedi pro instrutor me ensinar a colocar a terceira, a quarta e a quinta (marchas)
- Mas para quê? No exame do Detran só precisa primeira e segunda...

quarta-feira, 25 de março de 2009

Filha de Iemanjá

Na Rua São Bento, no Centro de São Paulo...
... um senhor de 60 anos pede informação a uma moça de 30.

- Por favor, onde fica a Rua 25 de março?
- Basta seguir reto por esta rua ...
- Desculpe interrompê-la, mas você sabia que é filha de Iemanjá?

A moça ignora a observação e continua a explicação.

- ... aí, quando o senhor chegar ao Mosteiro de São Bento, entre a direita na Rua Boa Vista ...
- Você não pode cortar o cabelo, viu moça?
- ... depois o senhor desce a Ladeira Porto Geral e lá estará a Rua 25 de março.
- Muito obrigado, mas só mais uma coisa.
- Diga.
- Pare de brigar com o seu marido minha filha, você anda meio chatinha estes dias.

A moça não disse nada, apenas acenou com a mão esquerda que, aliás, não tinha nenhuma aliança.

Homem de poucas palavras

Funcionários da manutenção, numa agência do Banco do Brasil, em São Paulo:

- Ela me azucrina porque não ligo pra ela.
- E por que não liga?
- Não tenho crédito, né, pô!
- Manda mensagem...
- Ela também me fala isso: "Manda mensagem" (com voz fina).
- E por que você não manda?
- Vocês não entendem que odeio essas coisas?!?
- ...
- Nem na época de escola mandava correio elegante!

terça-feira, 24 de março de 2009

Perdidos e pasmados


No show do Radiohead:

Do lado de fora, preso no trânsito, um homem abaixa o vidro do carro:
- Ei, o que está acontecendo aí?
- Tem um show do Radiohead
- Ah, é que eu moro por aqui e nem sabia

No caminho do estacionamento para a entrada:
- Olha a capa de chuva para não estragar a chapinha!
...
- Rause e Tride, Rause e Tride!

Já no show (uma laminha básica)
- Meu, o cara veio de chinelo?!
...
- Mostra os peito (sic), vagabunda! (para uma mina que subiu no ombro de um cara)

Você ouviu aquilo?

Atire a primeira pedra quem nunca se pegou ouvindo a conversa alheia e, melhor, deu risada com isso. Nem tenha a audácia da filombeta de dizer que isso é coisa de gente inxirida. O negócio aqui é dar orelhada.

Quando você está na fila do banco e dois mano (sic) falam sobre o fim de semana ou o chefe mala...
Ou no cabeleireiro, quando a moça que está com a manicure desfia seus problemas conjugais...
No banheiro do bar, quando aquela amiga está ajudando a outra bêbada a fazer xixi...

A gente só resolveu registrar esses colóquios pra posteridade.

E antes que seja preciso explicar: a URL ficou "orelhaepe" porque alguém foi tão criativo quanto a gente e já deu o nome "orelha em pé" para o seu próprio blog. Isso não é um blog sobre feijoada. Mas pode vir a ser, é só a gente ouvir o que aquele monte de língua fala dentro do caldeirão.